“Por que queremos o verão antes que a primavera?”: Uma discussão sobre o planejamento e o bem comum
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Desde um lugar que deve ser mais do
que encantador (pelos relatos de seus admiradores, e claro, por suas belas
cadeiras coloridas), que um dos mais polemistas membros do grupo de pesquisa embarcou
(e embarcamos juntos, ainda que somente no plano intelectual) em mais uma
viagem dessas que não são somente físicas, mas de buscas por significados e
entendimentos, por códigos e outras experiências culturais como forma de dar
luz às suas inquietações, científicas, vale esclarecer!
Como fruto do forte envolvimento com
o tema e participação nos PXOMs (Plan General de Ordenación Municipal),
emergiram diferentes posturas e formas de enxergar o problema, revelando um
pouco dos limites e das possibilidades no âmbito de planejamento estratégico e
Ordenação Territorial na Galícia. Houve quem dissesse que esta tarefa na
Galícia era um sonho ou utopia, mas tocado pela esperança e notícias de
exemplos reais e positivos em outras partes do mundo. Mundo este que, ao que
tudo indica, tem conexões para além de geográficas, mas também neuronais!
Sonhando com dias menos frios, o
polemista do grupo iniciou o paralelo do planejamento com as estações do ano. E
dando asas ao paralelo, os posicionamentos da discussão do email revelaram, de
uma forma metafórica, que entre nós há gente que sonha com o verão ainda que
distante ou ilusório, outros que se alegram com os sinais da primavera e a
outros o descongelar de um rio já representa um passinho, mesmo considerando a
doença do planejador, geralmente incompreendido neste mundo da vida. Dentre os
que esperam o descongelar do rio vem a ressalva de que muitas idéias são
impraticáveis porque muitos querem levar adiante os planos em apenas uma fase,
como verões antes das primaveras.
Entre os diversos posicionamentos,
foi possível perceber que cada um espera a primavera a seu modo. Um
posicionamento foi de que os planos não são levados a cabo como deveriam na
Galícia porque as pessoas, em meio a tantas transformações – sobretudo de
sociedade rural a urbana, ainda não são capazes de enxergar de forma clara a
utilidade do planejamento, alegando e ao mesmo contrariando aos do gelo, que
este se faz pelo bem comum, remetendo a coesão social dos maias que foram
capazes de desenvolver uma civilização no alto das montanhas e não nos vales
férteis como a maioria das demais sociedades. Sob esta ótica, o planejamento
seria uma construção social na qual os indivíduos são impelidos a buscar o bem
comum, movidos pela solidariedade, que na opinião deste estudioso, é inerente à
sociedade. Houve gente que, sem muito entender do tema arriscou uma opinião
contrária ao suposto de que a solidariedade move as ações humanas, apontando
que a coesão social pode ser lograda articulando-se interesses individuais, de
modo que um não elimina o outro, sendo o desenvolvimento um processo que se vê
ameaçado por transformações exógenas, de cima para baixo. De tal modo, a
conquista do bem comum teria suas limitações pela incapacidade de que as práticas
sejam antecedidas de idéias e transformações institucionais. E nesta linha, se
complementou a opinião de um experto no sentido de que é necessário pensar que
o planejador é uma ferramenta e que existem outros fatores na sociedade que
interferem na execução dos planos, sendo para ele, a questão fundamental que a
sociedade consiga enxergar um beneficio, algo positivo, para chegar ao tão
esperado bem comum.
Finalmente, surgiu um olhar que
rechaçou o bem comum e bem individual pela perspectiva dicotômica, sublinhando
que não buscar o bem comum seria sintoma de uma sociedade doente. Propôs que o
bem individual (satisfação, felicidade, etc) pode se basear ou delimitar-se
pelo bem de todos, sendo o desafio hodierno entender o que é ou não bem comum.
Em Lugo seguimos assim...a espera da
primavera que já dá seus primeiros sinais e que muito alegra a brasileira que
vos escreve.
Nathália Thaís Cosmo da Silva
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